terça-feira, 3 de julho de 2012

Os Invisíveis

      O fingimento apoderou-se do ser humano de tal forma que criou-se uma subcategoria de seres humanos: os invisíveis. Os invisíveis são os desfavorecidos economicamente, os deficientes, os idosos… todos que de alguma forma necessitam dos outros e se tornaram um estorvo. O fenómeno fingimento expressa-se pelas ruas das cidades, onde ninguém vê a miséria que impera nelas. É comum ao passarmos por uma rua qualquer e vermos as pessoas que estão famintas de pão e também de uma palavra amiga. Já não é necessário estar numa rua movimentada de uma cidade para ouvirmos os gritos dos Invisíveis, que são silenciosos para maioria das pessoas por mera opção. É mais fácil fingir que não sabemos que o outro não precisa de nós! 
      Olhamos para essas pessoas como seres humanos de segunda categoria e vemo-los como sendo os únicos culpados pela situação em que se encontram e que não merecem a nossa solidariedade, atenção, carinho … Porque assim a nossa consciência não nos maltratará por assistirmos impávidos ao sofrimento de pessoas que um dia tiveram sonhos, que precisam se alimentar, que precisam de carinho e que precisam de um tecto tal como nós supostos seres humanos de primeira. Sendo invisíveis essas pessoas deixam de ser um problema, pois elas não existem para nós ou pelo menos fingimos que elas não estão lá… 
        Há também os idosos que estão esquecidos em casa. Vivem sozinhos e mal se conseguem mexer. Muitos foram abandonados pelos próprios filhos. Que ricos filhos! A solidão lhes corrói a alma e sentem a ingratidão de uma vida, que chega de mansinho, mas lhes atormenta a alma no meio de um gélido vazio de afecto, amor... Idosos que choram como crianças e que são frágeis que nem castelos de areia. 
       Na nossa sociedade, infelizmente, quantificamos o valor da vida. A quantificação do valor da vida é feita numa perspectiva meramente economicista. O valor da vida de um idoso é muito menor que a de um jovem, isto porque um jovem pode produzir algo para a economia, mas um idoso é alguém que significa despesas: na saúde, pensões…
       É injusto essa visão meramente economicista, pois todos os idosos já foram jovens e a maioria deu o seu contributo para o bem da sociedade e a lei da natureza é que todos envelhecemos e vamos perdendo capacidades e isso não é uma escolha. 
      Aos filhos que abandonam os pais pergunto: como é que deixam, alguém que vos deu amor, carinho e vos deu a possibilidade de se tornarem gente, mergulhados num espaço infinito e vazio? 
      Há que repensar as estratégias para resolver as questões. Fingir que esta questão não existe, não é o mesmo que encontrar uma solução para a mesma. É preciso pensar, decidir, elaborar e executar estratégias para que efectivamente possamos solucioná-las. Fingir que esta dificuldade não existe é o mesmo que esconde-la temporariamente, enquanto ela cresce silenciosamente…