quarta-feira, 16 de junho de 2010

Parecer ser







Sempre me incomodou/inquietou muito o facto de as pessoas viverem para o espectáculo não se preocupando em fazer coisas que realmente os façam sentir realizados e felizes com a vida que têm. Ao contrário, deparo-me cada vez mais com pessoas que vivem como se fizessem parte de uma peça teatral onde nada acontece por acaso, nada acontece naturalmente. Onde o sujeito se sente “feliz” porque imagina que o outro acha que ele/ela é feliz, vivendo deste modo uma vida de autentica solidão e vazio interior onde o parecer ser é mais importante que o ser.
As pessoas não importam mais se são felizes ou não o que importa é se o outro acha que são felizes, portanto estas pessoas medem o seu grau de felicidade pela sua popularidade.
Há um medo enorme de viver os pequenos momentos da vida porque isso é admitir que temos sentimentos que são tidos nos dias de hoje como fraqueza. Que cúmulo a que chegamos! Viver a vida de forma profunda, sincera e sem reservas é sinal fraqueza!

Esse viver para o espectáculo que deixa-nos desprovidos de qualquer noção de amor, amizade, honestidade, humildade, respeito e naturalidade torna-nos de tal forma egoístas e más que o conceito de alteridade perde o total sentido e magoar o outro fica banal ao ponto das pessoas fazerem coisas que podem magoa-los muito, mas o mais importante é que magoem os outros ainda mais!

È uma dadiva encontrar pessoas com as quais podes partilhar, tudo que seja possível, sem receios. Pessoas que não têm como objectivo principal serem populares e que querem a todo o custo ouvirem os outros falarem delas. Quando encontramos pessoas que apenas querem partilhar o que têm, então devemos aproveitar para crescermos juntos como seres humanos, pois são essas pessoas que guardamos em nós e das quais nos lembramos com um sorriso no rosto.

Me parte o coração saber que existem pessoas que vivem desta forma, mas é um facto! A ideia de partilha não mais faz sentido, mas sim a do poder onde uns dominam os outros e não se olha aos meios e as consequências para se atingir tal poder!

Eu vivo para ser feliz e não sou feliz se eu magoo os outros para ser “feliz”. Como poderia? Impossível, pois simplesmente me coloco sempre no lugar do outro antes de agir! Seria incapaz de fazer ao outro o que não quero que façam a mim.

3 comentários:

  1. Eu sempre achei muito importante as pessoas manifestaram suas opiniões, expressarem sem medo, o que lhes permeiam a alma. É uma maneira riquíssima de conhecermos o/a outro/a, convivermos como deve ser, entre as pessoas: com respeito às diferenças e à diversidade. Esse posicionamento seguro, defendendo as nossas crenças é uma prática há muito esquecida, daí a homogeneidade, destruindo o que nos diferencia, e o que nos faz únicos, uno numa construção coletiva. O que me permite citar o Guy Debord, com a sua teoria crítica, A Sociedade do Espetáculo, onde ele já denunciava o aspecto de espetacularização dos feitos nessa sociedade pós-moderna. Porque para o momento histórico que estamos construindo e vivendo ao mesmo tempo, tudo é mediado pela economia, a felicidade não é um estado enlevado da alma, mas está diretamente relacionada como o que podemos consumir para provar (e provocar) a/no outrem que posso e sou exatamente aquilo que consumo, desde que o outro consuma também. Tudo é imagem e representação; aparência e ilusão; passividade e submissão; "a realidade passa a ser vivida no reino da imagem e não no plano da própria realidade"; ou seja: "os indivíduos passam a viver em um mundo movido pelas aparências e pelo consumo permanente de fatos, notícias, produtos e mercadorias", esquecendo fundamentais conceitos e vivências como a felicidade, a ética, a honestidade, a alteridade, a amizade e sobretudo o respeito!

    Ótimo texto, Nelson, é bem o resultado do que és, do que pensas e vives. E eu sou uma pessoa privilegiada por estar em seu convívio e crescer junto.

    Um beijo e parabéns pelo blogue, contigo na blogosfera ela só se enriquece, seja bem-vindo!

    ;)

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. "Apesar de todos os seus fingimentos, eles se parecem a macacos vestidos de púrpura ou a asnos cobertos de pele do leão; por mais que o façam, há sempre uma ponta de orelha que revela, no final, a cabeça de Midas".

    Estou relendo o Elogio da Loucura, do Erasmo de Roterdã, e achei esse fragmento tão pertinente, seu texto dialoga também com esse livro, Nelson.

    Beijo e ótimo final de semana!

    ;)

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